Interview with Ghalia

Ghalia has been sharing her story with the students in the virtual classes, and has told us what she has felt in these sessions with CHANGE.
 
In the preparation sessions, what did you think was most important to transmit to the students?
First of all, I wanted to show them what my country was like and how happy people were before the war, how they had a completely normal and quality life. I wanted to show them a different Syria from the one in the news today, the Syria that lives in the memory of the refugees. For that, we prepared a presentation with images and videos of Syria before 2011, of the people and life in the city of Damascus, so that they would be aware of the other side beyond the violence we see in the media today.
 
What were your expectations from these virtual meetings?
At first, my expectations were low. First, because they might be too small to understand this reality; and second, because it was virtual, we ran the risk that they would lose interest more easily, or that they would not participate as much. But I changed my mind completely after meeting the first group. They always listened to me very carefully, they participated more than I expected… I felt good to be there, with them, in that virtual class. They always asked a lot of questions at the end, and that showed that they were really interested in this subject. I was surprised by their maturity and their questions, which were looking for even the smallest detail of my story. I think the classes prepared them well for this moment, and you could tell that their questions were very thoughtful.
 
Are you afraid of being asked less relevant questions?
I am not afraid of uncomfortable questions. I think it is important that, if that question is going around in the child’s or teenager’s head, someone has to answer it, even if it makes us uncomfortable or on a topic that hurts. It is important that these young people grow up informed and that they are able to understand others and put themselves in their place. If we do not respond, their doubts will grow and they will surely be contaminated by things they read on social networks or unreliable sources. If they don’t know, they have to ask who knows, and do research on the subject, always making sure the information is reliable.
 
What do you think about this new online format?
I think this pandemic is ideal for students to put themselves in the shoes of those who are forced to stay home for fear that something will hurt, or even kill, them and their own families. Unfortunately, this is how refugees live in the areas of greatest conflict.
 
What about the project in general?
I think it is an opportunity for them to reflect and understand this reality better. Portugal is one of the countries that will take in unaccompanied minors from the refugee camps in Greece. These children have not had access to school along all or most of the migration route. Many of them have had to work to help their families in other countries before arriving in Europe and, even in Greece, have lived in camps with terrible living conditions. They will undoubtedly find it very difficult to integrate into school and to relate to their peers and teachers, and it is important that others are prepared to understand and help them.
 
Why do you think it is important to share your child’s experience in Portuguese schools?
Unfortunately, in Portugal, bullying is a reality that affects many immigrant and refugee students, and I always tell my son’s experience: how difficult it was for him to be understood at school, both by his teachers and his classmates. In the virtual classes, I always talk about my work as an interpreter and mediator at JRS, because I want to show them how easy it is to help when you understand what people have been through. I know how important this is for the families I have accompanied so far. Thanks to my profession, I can give back what I was given when I arrived, and which makes a difference to newcomers: a smile, a hug, a little attention, even if it seems insignificant, really helps others, especially when they do not know anything or anyone in this country, or do not speak the language. We have more impact on others than we think, and I hope to be able to teach my students that they have a crucial role in the lives of their more vulnerable peers, who need their support and understanding.

 

Portuguese version

 

Entrevista com Ghalia

 
A Ghalia tem partilhado a sua história de vida com os alunos nas salas-de-aula virtuais, e contou-nos aquilo que sentiu durante estas sessões CHANGE.
 
Durante as sessões de preparação do testemunho, o que achou mais importante transmitir aos alunos?
Quis, em primeiro lugar, mostrar-lhes o meu país antes da guerra e como as pessoas eram felizes e tinham uma vida completamente normal e com muita qualidade. Quis mostrar-lhes uma Síria diferente da que aparece nas notícias atualmente, a Síria que mora na memória dos refugiados. Preparámos uma apresentação para mostrar-lhes imagens e vídeos da Síria antes de 2011, do povo e da vida na cidade de Damasco, e dar-lhes a conhecer a outra face da violência que vemos hoje na comunicação social.
 
Quais eram as suas expectativas em relação a estes encontros virtuais?
Ao início as minhas expectativas eram baixas, primeiro porque podiam ser demasiado jovens para compreender esta realidade, e depois por ser virtual, havia o risco de perderem mais facilmente o interesse ou não participarem tanto. Mas mudei totalmente de ideias depois de conhecer a primeira turma. Ouviram-me sempre com muita atenção, participaram mais do que alguma vez esperei e senti-me bem em estar ali, naquela sala virtual, com eles. Fazem sempre muitas perguntas no final e isso mostra que estão mesmo interessados e curiosos sobre este tema, fiquei em choque com a maturidade dos alunos e com as perguntas que iam ao mais pequeno detalhe dos sentimentos que vivi ao longo da minha história de vida. Acho que as aulas os preparam bem para este momento e nota-se que eram questões já muito bem pensadas.
 
Tem medo de que lhe façam alguma questão menos pertinente?
Não tenho medo de perguntas desconfortáveis. Acho importante que, se essa pergunta existe na cabeça daquela criança ou daquele jovem, alguém deve responder sem hesitar porque nos incomoda ou porque remexe num passado que nos magoa. Precisamos que estes jovens cresçam informados e que consigam compreender os outros e colocarem-se na sua pele. Se não respondemos, aquela pergunta vai crescer e muito provavelmente vai ser contaminada por coisas que leem nas redes sociais ou fontes que não são de confiança. Se não sabem, devem perguntar a quem sabe e pesquisarem sobre o tema, confirmando sempre se a informação é de confiança.
 
Qual é a sua opinião sobre este novo formato online?
Acho que esta pandemia é o contexto ideal para que os alunos se consigam colocar na pele de quem é obrigado a ficar em casa porque tem medo de algo que lhe possa fazer mal, ou mesmo matar. Que pode fazer mal, ou mesmo matar, a sua família. Infelizmente, é assim que vivem os refugiados nas zonas de maiores conflitos.
 
E sobre o projeto, em geral?
Acho que é uma oportunidade para refletirem e compreenderem melhor esta realidade. Portugal é um dos países que vai receber crianças não acompanhadas dos campos da Grécia e estas crianças não tiveram acesso à escola em todo ou quase todo o percurso migratório. Muitas delas, tiveram de trabalhar para ajudar a família noutros países antes de chegarem à Europa e, mesmo na Grécia, viveram até agora em campos sem condições nenhumas. Terão certamente muitas dificuldades em integrar-se na escola e em interagir com os colegas e professores e é importante que os jovens estejam preparados para as compreender e ajudar.
 
Porque acha importante partilhar a experiência do seu filho nas escolas portuguesas?
O bullying, infelizmente, é uma realidade muito presente que afeta muitos alunos imigrantes e refugiados nas escolas portuguesas e conto sempre a experiência do meu filho e como foi difícil que o compreendessem na escola, fossem professores ou alunos. Quando vou às salas-de-aula virtuais, falo sempre do meu trabalho como intérprete e mediadora no JRS, porque quero mostrar-lhes como é fácil ajudar quando se compreende o que as pessoas passaram. Sei o quanto as famílias que acompanhei até hoje precisam disso. Na minha profissão, consigo dar de volta aquilo que foi dado quando cheguei e que faz toda a diferença para quem é acolhido: um sorriso, um abraço, uma atenção que pode parecer pouco, mas que marca verdadeiramente os outros, especialmente quando não conhecem nada nem ninguém neste país, ou não falam a língua. Nós temos mais impacto nos outros do que aquilo que nós pensamos e espero conseguir mostrar aos alunos que têm um papel muito importante na vida dos seus colegas de turma ou de escola mais vulneráveis que precisam do seu apoio e compreensão.